quarta-feira, 30 de março de 2011

Ações libertadoras


GAZETA DO RACIONALISMO CRISTÃO

Ações libertadoras

Jurandir Pereira

Vida é ação. Onde há ação está o cumprimento do dever. (Luiz de Mattos)



Ação é a palavra de ordem em todo o Universo. O movimento constitui mecanismo que impulsiona a vida em todos os sentidos. De posse dos instrumentos hábeis para disciplinar a vontade, o espírito mantendo o conhecimento de si, fatalmente se autodesperta, percebendo a própria realidade e os objetivos essenciais para desfrutar de uma existência saudável, o que não significa viver sem qualquer aflição ou desafio. Havendo adquirido consciência dos próprios limites, automaticamente eles são ampliados em possibilidades de realização, como também sobre os fenômenos normais que fazem parte de sua trajetória evolutiva.


Dessa fase, o espírito percebe que deve partir para a ação, porquanto o conhecimento sem a experiência vivida no cotidiano carece de valor para significar equilíbrio, por não haver passado pelo teste demonstrativo da sua resistência. Vive-se na Terra, o momento de desvelar o que se encontra oculto. Não que este seja um período pior do que outros que foram ultrapassados. É mesmo caracterizado por muitos resultados advindos do progresso e do desenvolvimento cultural dos seus habitantes, embora ainda permaneçam muitos desastres evolutivos em forma de violência, de desrespeito às leis soberanas da Inteligência Universal, de desequilíbrios em expressões diferentes, mas todos muito graves quão perturbadores.


Acontece que muitos dos acidentes morais que chegam ao conhecimento público e fazem a felicidade de certos jornais escandalosos e da mídia em geral, que com eles se preocupam, assim interessam aos leitores e ouvintes porque são projeções inconscientes do que está gravado no íntimo dos seres, permanecendo ocultos. De certo modo, alguns seres humanos sentem prazer quando detecta uma desgraça alheia, vendo-se refletido no outro, que parecia nobre e bom, no entanto portador das mesmas misérias que ele. Em conseqüência, compraz-se em divulgar o fato, hipocritamente algumas vezes, dando a impressão de lamentá-lo, quando está aplaudindo-se e ampliando a área da informação insalubre, ou simplesmente quando se ergue para agredir em nome da moralidade ou da defesa dos ideais de enobrecimento, assim agindo, irado, porque o outro realizou o que ele gostaria de fazer e não pôde, não teve coragem, as circunstâncias não lhe facultaram.


O comportamento emocional é muito complexo para ser reduzido a padrões que inspirem segurança e estrutura, em razão do processo de evolução de cada ser ao longo das reencarnações, tendo como predominância, em sua natureza, o período multissecular de experiências nas encarnações mais primárias do desenvolvimento e pouco tempo ao acesso à razão, ao discernimento, aos sentimentos mais nobres. As ações, portanto, são o reflexo da fixação das conquistas psicológicas e intelectuais, tornando-se realidades na pauta do comportamento humano e no inter-relacionamento pessoal.


Aos mais instruídos, as suas ações começam usando o instrumento da tolerância para com aqueles que se encontram nos patamares inferiores do processo de crescimento moral, ensejando-lhes aberturas fraternais para sua realização, ao mesmo tempo auxiliando de forma direta na conquista do necessário ao seu crescimento interior e externo. A tolerância real é conquista valiosa, que se transforma em degrau do progresso, porque faculta novas expressões de solidariedade, destacando-se o reconhecimento irrestrito a todo mal que se haja feito, com esquecimento real de qualquer ofensa. Superar esse desafio significa um passo avançado no processo esclarecedor pessoal, que abre campo para outras ações também enobrecedoras.


O ser humano somente se identifica com sua realidade quando age, tornando-se útil, desprendido de bens materiais e das paixões pessoais ainda primitivas. Muitas desgraças que lhe aconteceram são lições de vida, cujos bens morais devem compreender e armazenar. Enfermidades inesperadas, acontecimentos desagradáveis, acusações descabidas são ocorrências que favorecem o enrijecimento do caráter do espírito e que o enobrecem, provendo-o das classes psíquicas mais pesadas onde se encontra, para que se possa, só com auxílio do Astral Superior, movimentar em outras mais elevadas que o aguardam no processo de libertação. Por isso mesmo, nem todo infortúnio deve ser lamentado, senão aceito de modo positivo, porque a Vida sabe o que é necessário para o ser, proporcionando-lhe conforme a sua capacidade de aceitação e oportunidade de experimentação.


Realizado desta maneira, esse ser autodesperto já não pode adiar a sua contribuição em favor do meio social onde vive, passando a agir de maneira infatigável. As suas ações se tornam fator preponderante para o progresso de todos os demais seres, que agora se lhe tornam efetivos irmãos, companheiros da mesma jornada. Sua responsabilidade torna-se expressiva, porquanto, autoconsciente dos compromissos que lhe estão reservados, entende por que se encontra na Terra neste momento e sabe como desincumbir-se dos confrontos e lutas que lhe chegam, preservando valores morais e humanos que lhe são próprios.


Quaisquer conflitos que porventura lhe surjam, agora não constituem mais razão de desequilíbrio ou de perturbação, mas oportunidade de ampliar-lhe a capacidade de entender e de solucionar, de crescer infinitamente, porque o seu futuro é a conquista do si plenamente, superando todos os obstáculos decorrentes das reencarnações passadas com vistas nas propostas desafiadoras do futuro.


Goiania, janeiro 2007

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